terça-feira, 7 de abril de 2015

Desconectar para conectar

Precisamos nos desconectar de nossos problemas para nos conectar consigo mesmos

LENILTON JUNIOR


SABEMOS que homem sempre procurou entender a si mesmo e aos outros que o rodeiam. Sabemos, ainda, que nesta sua busca por informações tornou-se necessária a sistematização de suas descobertas. Então surgiram instrumentos para exprimir pensamento ou representá-lo através de imagens, dos mais rudimentares aos mais sofisticados, da escritura rupestre ao computador. Entretanto, o advento da tecnologia foi quem provocou mudanças significativas na vida do indivíduo que vive em sociedade e que nela luta para sobreviver. É urgente a tarefa de nos redescobrirmos para que possamos viver em equilíbrio com nós mesmos e com a natureza.

A competição, a exigência por atualização e  qualificação profissional, a má distribuição de renda entre classes sociais, a falta de políticas públicas eficientes e a demanda de atividades no trabalho, somadas às obrigações civis e às atribuições familiares consistem em um fardo muito pesado a ser carregado todos os dias pelos cidadãos de qualquer parte do mundo. Acrescente-se, ainda, que estes fatores  são os responsáveis pelas patologias sociais que encurtam vidas, pois tornam as pessoas reféns de seus trabalhos e, cada vez mais, distantes de si mesmas.

Não precisa pensar muito para constatar que o estresse tem tomado conta de nosso dia a dia. Sempre temos que correr contra o tempo para conseguir dar conta de alguma atividade, que não é fácil de ser realizada. Além disso, é preciso considerar que, por mais simples que seja, nossa escolha também  implica em renúncia.  A renúncia,  por sua vez, pode ser a algo que gostamos muito ou que faríamos de forma involuntária, se não fosse a demanda de atividades do nosso dia a dia. Renunciamos ao tempo com nossa família, com nossos amigos, ao tempo consigo mesmos em nome de uma boa remuneração financeira, boas condições de vida para nós e para quem amamos, mas nos esquecemos que tudo na vida deixa marcas. Os momentos em que ficamos ausentes com nossa família não voltam mais. As reuniões perdidas com os amigos não voltam mais. A vida que deixou de ser vivida não volta mais.

Vivemos como loucos em nome da falsa ilusão de que só se vive com muito dinheiro e nos esquecemos de que quando tínhamos pouco dinheiro  vivíamos talvez até melhor do que hoje. De que adianta ter tanto dinheiro, mas não ter qualidade de vida? Não se sentir bem consigo mesmo? Não viver a vida como ela tem que ser vivida?

O stress do dia a dia tem nos tornado pessoas cada vez menos humanas, amargas, competitivas, desequilibradas, confusas com relação a quem somos e sem saber, também, qual a verdadeira face do outro.  Talvez o autorretrato que tiramos já seja uma confirmação disto. Por falar em imagem, as redes sociais, por sua vez, parecem ser uma projeção daquilo que somos e daquilo que almejamos ser, mas muitas vezes não temos coragem de colocar em prática.  As pessoas estão confundindo o virtual com o real e o real com o virtual. Parece que elas não têm segurança naquilo que se propõem a fazer ou não acreditam no seu potencial. A maioria das pessoas não senta em volta da mesa com suas famílias, se não for preocupada com o que vai passar no telejornal.  É raro algum familiar perguntar como foi o dia do outro. É raro ver alguém colocar em prática a gentileza que existe em cada um de nós. Vivemos em tempo de liquidez.  O amor é líquido, a sinceridade é líquida, o respeito também o é. Há mais de dois mil anos d. C. ainda continuamos flagelando uns aos outros. O grupo radical Estado Islâmico (doravante ISIS) é exemplo disto. Destruímos até a natureza em nome de nosso egoísmo e ganância.

Precisamos decidir o que queremos para nossa vida. Precisamos entender que ela precisa ser vivida com alegria. Precisamos planejar melhor nossos objetivos para conseguirmos aproveitar nossa família, nossos amigos, a nós mesmos. É preciso haver mais diálogo. É preciso escolher o que se quer ver, ouvir e falar. É preciso refletir se é melhor viver o real ou o virtual, se a mentira é melhor que a verdade ou vice-versa. Temos negociar com o sistema os momentos de felicidade que almejamos ter. Temos que VIVER. E a natureza, ou pelo menos o que ainda existe dela, pode nos conectar consigo mesmos. Mas, para isto, é preciso se desconectar dos problemas. Nada disto é fácil, mas é preciso fazer.

NOTA: Não procuramos definir aqui uma receita para viver bem, mas antes levantamos questionamentos para que cada leitor reflita sobre eles.