domingo, 20 de março de 2016

Confissões (Parte II)

                                                                                        Lenilton Junior

O assunto não chega à minha mente,
Mas desejo escrever. 
Eu desejo falar o que sinto,
Ser ouvido,
Ou apenas conversar comigo mesmo.

Sinto-me sufocado por rotinas fatigadas,
Por ter que ser, não sendo...
Por ter que contribuir, precisando...

Fingir ter bom ânimo, já não consigo mais
Recomeçar parece ser difícil:
Rever conceitos,
Repensar atitudes...
Tomar decisões parece estar sendo submetido à forca. 
Amar deixou de ser verbo e passou a ser mero substantivo.

Preciso de fôlego para continuar trilhando o caminho que escolhi,
Preciso recarregar a bateria, que parece estar danificada,
Preciso me encontrar em meio à tempestade que passa pela minha vida                                                     

Decidida a carregar consigo tudo o que puder carregar.
Ah! Eu preciso de amor para que possa dar amor.

A humanidade se encontra tão carente daquilo que constitui sua essência.
Temos informação, mas não sabemos mais lidar com ela.
Temos trabalho, mas não sabemos mais separar o nosso momento de descanso. 
Temos família, mas não nos juntamos a ela como deveríamos nos juntar.
(Fomos traídos por nós mesmos)
Temos amor, mas não reparamos mais se ele está bem pertinho de nós.
Nós existimos, mas parece que não somos mais humanos.
Onde chegamos?

Encontrei-me nas ideias:
Certamente estou incomodado com o atual estado de coisas da sociedade em que faço parte.                            

Mas, também devo conjecturar que os problemas familiares chacoalharam minha vida.

Viver implica estar com,
Conhecer, refletir, agir.
Tudo isto sem roteiro.
Porque o nosso roteiro somos nós que construímos dia após dia.

Tal qual um lápis com borracha
Escrevemos, apagamos, reescrevemos o roteiro.

O problema é que, às vezes, nos apressamos em passar para caneta o que não havia sido revisado.
É quando já não dá para voltar atrás,
E o erro, infelizmente, marca muito mais profundamente nossas vidas
Do que o borrão do lápis no papel.

Daí tentamos o toque mágico. 
Mas, nem sempre, ele resolve o problema do erro.
Às vezes, ele dilacera o papel, prejudicando o material                                                                                          

E, consequentemente, o plano das ideias registradas.                                                                                         
As consequências são enormes:
Podemos até rasgar o papel numa atitude impensada, 
Mas precisamos nos lembrar que não tem volta.

Também podemos conviver com o erro registrado no papel,
Mas, dali em diante, não podemos errar para não perder a folha
E não ser mais possível dizer tudo o que a gente quis dizer através do papel.
Papel este que pode ser branco, amarelo, reciclado


O papel, seja ele qual for, pode vir numa embalagem especial, com design empolgante
Ou pode vir num pacote ou resma simples
Com apenas um nome, para não ser tão esquecida pelos demais

Na verdade, o que importa é que cada papel consiga ser útil,                                                                        
Consiga transitar por diferentes mesas, diferentes impressoras, diferentes mãos,                                             
Mas, com seu cheiro particular, com sua forma particular e com sua cor particular,                                       
Consiga ser percebido.

O papel não pode ser guardado em gavetas e, depois, comido por seres que nos enojam
Que o papel seja percebido, lido, relido e ressignificado                                                                                      

Até que finde sua existência. 
(Como a existência de todas as demais coisas.)

O papel é a nossa vida.
Que saibamos utilizá-la de forma humanamente humana,                                                                      

Conscientes de que de onde saiu o papel, somente outros papéis podem sair.                                 

Não existem papéis gêmeos.                                                                                                                             
E mesmo os gêmeos são diferentes.                                                                                                                 
Em outras palavras, cada papel é especial, porque é único.