segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Confissões
Lenilton Junior

-Olá! Sou xxx e agradeço  por você  ter dedicado um pouco do seu tempo para mim.  Tenho 23 anos - não tão bem vividos,  visto que só  há pouco entendi o verdadeiro significado do verbo VIVER,  e um objetivo: ser feliz.
Hoje sei quão  valiosas são as experiências vividas e as que estão  por vir.  São elas que nos fazem perder o medo de encarar o mundo como ele e descobrir,  realmente,  quem somos.
O mundo não  é como um conto de fadas,  onde basta sonhar para que tudo se realize,  mas também ele não  é como um filme de terror,  onde a todo instante temos que travar batalhas com nosso inimigo.
Alguém já  disse que "Viver é uma arte, um ofício, só que precisa cuidado".  Concordo.  Pois,  é preciso saber fazer as escolhas certas.  Não titubear nas decisões.  Isso significa,  também,  não  ceder às pressões  externas - sejam elas quais forem,  nem tampouco pensar somente em você.  É difícil,  eu sei, mas é preciso disciplinar o corpo e a mente.
O corpo precisa estar em movimento,  senão definha,  adoece,  e perdemos,  assim,  a substância física que nos conecta com o mundo e com os outros. Daí a necessidade de praticar exercícios - claro que num ritmo equilibrado,  porque "tudo demais é veneno". 
A mente também precisa ser trabalhada,  principalmente num momento histórico e social como este,  onde tudo é líquido: o amor,  a honestidade,  a verdade,  e a liberdade,  a igualdade e a fraternidade parecem não existir mais.  
Somos cobrados,  dia após dia,  por aquilo que deixamos de fazer ou, até mesmo, por aquilo que  fizemos,  mas,  na concepção do outro,  não foi bem feito. Temos contas a pagar,  obrigações  familiares,  domésticas,  trabalhistas,  cidadãs.
Além disso,  ainda temos que seguir padrões sociais,  que já não acompanham mais os valores e as conquistas humanas: padrão familiar,  padrão de comportamento social,  padrão de beleza,  padrão político. "A realidade atual é um camaleão superativo". 
Não precisa procurar muito na memória para se recordar de situações que nos fizeram resignificar o amor,  que não se define através de palavras,  mas que se manifesta através de atitudes e do calor sentido num aperto de mão,  num abraço,  num carinho ou,  até mesmo,  num simples  bom dia!
Quanto à honestidade,  penso que é difícil encontrá-la,  mas não  é impossível ser honesto. A honestidade confere verdade e credibilidade aquilo que é proferido por alguém, mas vimos que mentiras tantas vezes repetidas acabam tornando-se verdades e isso,  infelizmente,  é entendido como algo normal.
Nos acostumamos com as guerras,  com o roubo do dinheiro público,  com as nossas pequenas infrações cotidianas,  com a nossa sociedade mesquinha. Tornamo-nos frios e calculistas
A liberdade,  por sua vez,  é para poucos.  Vivemos no século XXI,  mas ainda com a mentalidade medieval,  onde quem tem dinheiro tem poder;  doutrinados pelo "manda quem pode,  obedece quem tem juízo ";  senhores do que é a boa conduta social na teoria, donos da verdade na teoria,  mas ignorantes de tudo isso na prática. A nossa liberdade passou a ser algo negociado com "o sistema" .
Apedrejamos,  condenamos quem se comporta de jeito diferente do convencionado socialmente.  Na verdade,  nos esquecemos de que nós não temos autoridade para julgar o outro,  mas de tanto sermos apedrejados,  com medo da emaça que o outro pode representar para nós,  assumimos o papel de juízes de crime nenhum,  para fim nenhum,  a não ser nossa autodestruição.
A fraternidade algumas vezes é que manda lembranças.  Vimos umas poucas pessoas ajudando vítimas de atentados causados por doentes que dizem estar agindo em nome de Deus;   muito poucas pessoas se solidarizam em prestar socorro a quem é vítima de desastres naturais por conta própria - é preciso que entidades realizem shows,  estratégias de entretenimento em troca da fraternidade humana,  e, ainda assim,  acontecem desvios de recursos que não chegam de forma integral onde deveriam chegar. 
É muito raro encontrar alguém que ajude mendigos, fornecendo alimentação,  algum colchonete ou,  até mesmo,  uma palavra amiga para eles.
É raro conhecer alguém que queira se aproximar de você,  não por interesse,  mas porque gosta de sua companhia,  que se preocupa com você,  ligando,  escrevendo e-mail;  que ofereça apoio nas horas difíceis e compartilhe com você (e você com ela) os momentos bons da vida. 
Vivemos em uma era onde o desrespeito parece palavra de ordem,  a erotização de crianças rouba-lhes sua infância,  a falta de referências familiares vira a cabeça de nossos adolescentes,  a educação  doméstica falta nos ambientes sociais.
Vivemos num apagão cultural,  onde o que importa é mais a batida das músicas do que o conteúdo delas,  que incomensuravelmente ,  ofende,  constrange,  definha,  estraga,  enfim em nada acrescenta na formação da consciência  dos cidadãos do amanhã.
Se um homem abraça outro,  ele é gay.   Se uma mulher que não se casou ainda tem uma amiga e a trata com carinho ele é lésbica;  mulher tem que ser submissa ao homem,  homem não pode fazer serviços domésticos;  homem fala grosso,  mulher  tem que ter voz fina. Se alguém  come demais é gordo,  Se,  geralmente, alguém  é magro,  está "passando fome". Peraí, amar é crime?  Liberdade desse jeito é liberdade?  Convenções sociais servem para que mesmo? Para ceifar vidas? Alimentar o ódio?  Nutrir a corrupção?  A falta de honestidade?  A (des)umanização?
Nossa genialidade conseguiu acabar com nosso próprio habitat natural.  Estamos, ano após ano, forjando nossa própria desgraça,  pois o aquecimento global bate à porta, e pouco,  muito pouco, tem sido feito para corrigir nossa dívida com a natureza.
Para que tudo isso?  Porque te convido para refletir sobre você mesmo e o mundo à sua volta,  com tudo o que nele há? Porque estou farto das mesmas notícias todos os dias,  dos mesmos problemas batendo à nossa porta;  dos mesmos pensamentos,  das mesmas ideias - sejam elas boas ou ruins;  das mesmas punições,  da mesma falta de diálogo e amor nosso de cada dia.
Precisamos respeitar mais o outro.  Precisamos dialogar mais com o outro.  Precisamos repensar nossas atitudes socialmente convencionadas.  Precisamos voltar a amar o próximo,  seja ele quem for. Precisamos reconhecer que somos TODOS iguais.  Precisamos entender que dinheiro não é tudo. Precisamos aprender a escolher nossos políticos. Precisamos aproveitar mais esse bem tão lindo que é a natureza.  Precisamos saber retirar dela o que,  realmente,  nos é indispensável.  Precisamos entender que quem tem o direito de julgar não somos nós. Precisamos respeitar o direito do outro de ir e vir.  Precisamos resguardar nossas famílias da violência,  da erotização de crianças,  da banalização do sexo. Precisamos refletir sobre nossos pequenos grandes delitos cotidianos.