Confissões
Lenilton Junior
-Olá! Sou xxx e agradeço
por você ter dedicado um pouco do
seu tempo para mim. Tenho 23 anos - não
tão bem vividos, visto que só há pouco entendi o verdadeiro significado do verbo
VIVER, e um objetivo: ser feliz.
Hoje sei quão
valiosas são as experiências vividas e as que estão por vir.
São elas que nos fazem perder o medo de encarar o mundo como ele e
descobrir, realmente, quem somos.
O mundo não é como um
conto de fadas, onde basta sonhar para
que tudo se realize, mas também ele
não é como um filme de terror, onde a todo instante temos que travar
batalhas com nosso inimigo.
Alguém já disse que
"Viver é uma arte, um ofício, só que precisa cuidado". Concordo.
Pois, é preciso saber fazer as
escolhas certas. Não titubear nas
decisões. Isso significa, também,
não ceder às pressões externas - sejam elas quais forem, nem tampouco pensar somente em você. É difícil,
eu sei, mas é preciso disciplinar o corpo e a mente.
O corpo precisa estar em movimento, senão definha, adoece,
e perdemos, assim, a substância física que nos conecta com o
mundo e com os outros. Daí a necessidade de praticar exercícios - claro que num
ritmo equilibrado, porque "tudo
demais é veneno".
A mente também precisa ser trabalhada, principalmente num momento histórico e social
como este, onde tudo é líquido: o
amor, a honestidade, a verdade,
e a liberdade, a igualdade e a
fraternidade parecem não existir mais.
Somos cobrados, dia
após dia, por aquilo que deixamos de
fazer ou, até mesmo, por aquilo que
fizemos, mas, na concepção do outro, não foi bem feito. Temos contas a pagar, obrigações
familiares, domésticas, trabalhistas,
cidadãs.
Além disso, ainda
temos que seguir padrões sociais, que já
não acompanham mais os valores e as conquistas humanas: padrão familiar, padrão de comportamento social, padrão de beleza, padrão político. "A realidade atual é um
camaleão superativo".
Não precisa procurar muito na memória para se recordar de
situações que nos fizeram resignificar o amor,
que não se define através de palavras,
mas que se manifesta através de atitudes e do calor sentido num aperto
de mão, num abraço, num carinho ou, até mesmo,
num simples bom dia!
Quanto à honestidade,
penso que é difícil encontrá-la,
mas não é impossível ser honesto.
A honestidade confere verdade e credibilidade aquilo que é proferido por alguém,
mas vimos que mentiras tantas vezes repetidas acabam tornando-se verdades e
isso, infelizmente, é entendido como algo normal.
Nos acostumamos com as guerras, com o roubo do dinheiro público, com as nossas pequenas infrações
cotidianas, com a nossa sociedade
mesquinha. Tornamo-nos frios e calculistas
A liberdade, por sua
vez, é para poucos. Vivemos no século XXI, mas ainda com a mentalidade medieval, onde quem tem dinheiro tem poder; doutrinados pelo "manda quem pode, obedece quem tem juízo "; senhores do que é a boa conduta social na
teoria, donos da verdade na teoria, mas
ignorantes de tudo isso na prática. A nossa liberdade passou a ser algo negociado
com "o sistema" .
Apedrejamos,
condenamos quem se comporta de jeito diferente do convencionado
socialmente. Na verdade, nos esquecemos de que nós não temos
autoridade para julgar o outro, mas de
tanto sermos apedrejados, com medo da emaça
que o outro pode representar para nós,
assumimos o papel de juízes de crime nenhum, para fim nenhum, a não ser nossa autodestruição.
A fraternidade algumas vezes é que manda lembranças. Vimos umas poucas pessoas ajudando vítimas de
atentados causados por doentes que dizem estar agindo em nome de Deus; muito poucas pessoas se solidarizam em
prestar socorro a quem é vítima de desastres naturais por conta própria - é
preciso que entidades realizem shows,
estratégias de entretenimento em troca da fraternidade humana, e, ainda assim, acontecem desvios de recursos que não chegam
de forma integral onde deveriam chegar.
É muito raro encontrar alguém que ajude mendigos, fornecendo
alimentação, algum colchonete ou, até mesmo,
uma palavra amiga para eles.
É raro conhecer alguém que queira se aproximar de você, não por interesse, mas porque gosta de sua companhia, que se preocupa com você, ligando,
escrevendo e-mail; que ofereça
apoio nas horas difíceis e compartilhe com você (e você com ela) os momentos
bons da vida.
Vivemos em uma era onde o desrespeito parece palavra de
ordem, a erotização de crianças
rouba-lhes sua infância, a falta de
referências familiares vira a cabeça de nossos adolescentes, a educação
doméstica falta nos ambientes sociais.
Vivemos num apagão cultural,
onde o que importa é mais a batida das músicas do que o conteúdo
delas, que incomensuravelmente , ofende,
constrange, definha, estraga,
enfim em nada acrescenta na formação da consciência dos cidadãos do amanhã.
Se um homem abraça outro,
ele é gay. Se uma mulher que não
se casou ainda tem uma amiga e a trata com carinho ele é lésbica; mulher tem que ser submissa ao homem, homem não pode fazer serviços
domésticos; homem fala grosso, mulher
tem que ter voz fina. Se alguém
come demais é gordo, Se, geralmente, alguém é magro,
está "passando fome". Peraí, amar é crime? Liberdade desse jeito é liberdade? Convenções sociais servem para que mesmo? Para
ceifar vidas? Alimentar o ódio? Nutrir a
corrupção? A falta de honestidade? A (des)umanização?
Nossa genialidade conseguiu acabar com nosso próprio habitat
natural. Estamos, ano após ano, forjando
nossa própria desgraça, pois o
aquecimento global bate à porta, e pouco,
muito pouco, tem sido feito para corrigir nossa dívida com a natureza.
Para que tudo isso?
Porque te convido para refletir sobre você mesmo e o mundo à sua
volta, com tudo o que nele há? Porque
estou farto das mesmas notícias todos os dias, dos mesmos problemas batendo à nossa porta; dos mesmos pensamentos, das mesmas ideias - sejam elas boas ou
ruins; das mesmas punições, da mesma falta de diálogo e amor nosso de
cada dia.
Precisamos respeitar mais o outro. Precisamos dialogar mais com o outro. Precisamos repensar nossas atitudes
socialmente convencionadas. Precisamos
voltar a amar o próximo, seja ele quem
for. Precisamos reconhecer que somos TODOS iguais. Precisamos entender que dinheiro não é tudo.
Precisamos aprender a escolher nossos políticos. Precisamos aproveitar mais
esse bem tão lindo que é a natureza.
Precisamos saber retirar dela o que,
realmente, nos é indispensável. Precisamos entender que quem tem o direito de
julgar não somos nós. Precisamos respeitar o direito do outro de ir e vir. Precisamos resguardar nossas famílias da
violência, da erotização de crianças, da banalização do sexo. Precisamos refletir
sobre nossos pequenos grandes delitos cotidianos.