Quando calar é
melhor do que falar
LENILTON JUNIOR
Todos os dias, a vida nos desafia a sair de nossa zona
de conforto para superar obstáculos de ordem pessoal e/ou profissional.
Conflitos familiares nos desestabilizam e nos fazem (re)pensar valores. Do
mesmo modo, as demandas do trabalho nos instigam a planejar soluções eficazes
para o alcance de determinadas metas. Todavia, em ambas situações, nem sempre é
prudente falar. O silêncio pode ser uma boa resposta para aqueles que esperam que
esbravejemos discursos, dissuadindo o outro não pelo argumento, mas pela
intimidação ou pela exposição desnecessária.
Como sabemos, a atividade de comunicação verbal revela
os valores morais e éticos que defendemos ou que comungamos. Todavia, sabemos,
também, que a argumentação está em todo ato comunicativo. Quando os argumentos
não são consistentes a ponto de conquistar a adesão do outro, geralmente
utilizamos da emoção. Porém, existem aquelas pessoas que exageram no uso da
estratégia da persuasão, querendo que o outro aceite suas reivindicações, sem
chance de contra-argumentar. É aí que se instaura o problema das relações
sociais humanas. Diante desse dilema, quando não há diálogo, penso que o que
resta é o silêncio.
O silêncio não significa recuo de quem tentou
contra-argumentar, mas não teve seu turno de fala respeitado. O silêncio é
também um argumento. Ele pode sinalizar a urgência do outro refletir sobre o
que disse, como disse e com que finalidade proferiu determinado discurso. Creio
que não é possível mensurar se o impacto do silêncio será positivo ou negativo,
devido as diversas variáveis que existem em se tratando das relações sociais
que, cada vez mais, têm se tornado frágeis ou líquidas, no dizer de Bauman em
Modernidade Líquida. Porém, ele (o silêncio) pode ser uma estratégia válida na
tentativa de solucionar diferenças que sabemos que existem (e é natural que
existam!) entre cada um de nós.
Portanto, fica evidenciada a necessidade de
autoconhecimento e também de compreensão do outro nas relações estabelecidas no
tecido social. Nesse contexto, nem sempre o uso da verbalização é prudente. Da
mesma forma que não é prudente insistir em relações desgastadas, em vínculos
que desejávamos que ainda estivessem estabelecidos. Que aprendamos, a cada dia,
a sermos resilientes, a utilizar o passado para compreender o presente e
planejar o nosso futuro, conforme nos aconselha Jorn Rusen em Teoria da
história. Falta a “tolerância entre os desiguais”, como diz o samba da Mocidade
Independente de Padre Miguel (2018). Mais do que isso, falta a compreensão de
que devemos ter amor às pessoas e não às coisas. Afinal, não é difícil
constatarmos que “o salário do capitalismo é a morte”.
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